Lintas Serayu

Museu de Arqueologia “Hypólito Barato”

Fachada do Museu de Arqueologia “Hypólito Barato”

Expo 

Os artefatos expostos no Museu indicam modo de vida, alimentação centrada na horticultura, caça, coleta e pesca em menor escala, rituais, ritos fúnebres, identidade étnica e especialização do trabalho social.

Por analogia etnográfica com povos indígenas atuais, cabem às mulheres fazer a cerâmica, cuidar dos filhos, cozinhar… e aos homens caçar, pescar e fazer os artefatos líticos: pedra lascada e polida, além de defender o seu povo.

A nível pontual, a área ocupada pelos Kaingang de Água Limpa, situa-se em um vale da Serra do Jabuticabal, localizado em um interflúvio entre os córregos Água Limpa e Santa Luzia, da bacia do rio da Onça.

A Serra do Jabuticabal forneceu minerais (quarzto) e rochas (basalto, sílex, arenito, calcedônia e quartzito) para fazer instrumentos para caça, para moer os grãos e para a defesa do grupo; o barro dos barrancos dos córregos, ribeirões e rios do território ocupado pelos Kaingang foi utilizado para fazer vasilhames, urnas, potes para armazenar sementes e grãos, conter líquidos, cozinhar e enterrar, secundariamente, os mortos.

Os principais artefatos líticos lascados são as pontas de projétil, raspadores, planos-convexos (lesmas) e bigornas, e os polidos são almofarizes, mãos de pilão, lâminas de machado e bordunas. O conjunto de peças líticas lascadas e/ou polidas é denominado de indústria lítica.

Os artefatos cerâmicos, em sua maioria, são representados por urnas semi-esféricas para enterramentos secundários, vasilhames com pintura monocromática em vermelho, vasilhames com brunidura para usos diversos, além de fuso, cuscuzeiro e carimbo.

Os artefatos coletados pelas escavações são vetores de atividades sociais, como o virote de pedra, indicativo de ritual para a perpetuação do grupo; o cuscuzeiro, indicação de consumo do milho; o fuso, como indicativo de fiação e tecelagem de fibras vegetais; o carimbo em cerâmica, como marca de identidade étnica para carimbar possivelmente o corpo humano e a cerâmica; o pote de cerâmica com brunidura interna e externa, como identificação da cerâmica Kaingang; o uso do crânio intacto de macaco prego, como símbolo do povo; e a cerâmica com pintura em vermelho para oferecer alimento às divindades.

O sítio arqueológico de Água Limpa apresenta duas particularidades culturais da Arqueologia da região Sudeste do Brasil de sítios a céu aberto, com clima tropical marcado por duas estações anuais: a chuvosa e a seca, que provoca a acidez do solo, o qual decompõe em pouco tempo os artefatos de fibras vegetais, madeira, ossos, conchas, placas dérmicas e enterramentos humanos.

Uma delas relaciona-se à subsistência, ou seja, a alimentação baseava-se na horticultura complementada fundamentalmente na caça e coleta e, em menor escala, na pesca. As escavações identificaram 25 espécies de mamíferos, três espécies de répteis e duas espécies de moluscos.

Acervo do Museu de Arqueologia de Monte Alto

Culto aos Mortos

A segunda particularidade cultural se refere aos sepultamentos primários enterrados diretamente na terra, somente de indivíduos adultos, um ao lado do outro, alguns acompanhados com cerâmica além de  cristal de quartzo, lâmina de machado polida com gume acentuado e dente de mamífero. A área de sepultamentos primários foi usada durante mais de seis séculos.

Nos dez sepultamentos primários exumados, foram identificados ritos funerários, pela cerâmica, de acordo com o sexo e idade do morto. As mulheres que morreram muito jovens foram sepultadas com vasilhame de cerâmica associado aos membros inferiores (pés e fêmures) e os homens jovens mortos foram enterrados com grandes placas de cerâmica sobre o crânio. Um único sepultamento tem os dois tipos de acompanhamentos funerários indicativos dos rituais.

Também foram identificados dois sepultamentos secundários, um de adulto e o outro de um jovem que morreu por infecção no aparelho auditivo.

Até esta descoberta arqueológica, acreditava-se que os sítios a céu aberto da região Sudeste do país tinham sepultamentos primários dentro de urnas cerâmicas piriformes e carenadas em posição fetal.

Os Kaingang que viveram em Água Limpa durante mais de um milênio tinham fronteiras culturais com outros povos, ao Norte e a Oeste com os Kayapó Meridionais, ao Sul com os Guarani e a Leste com os Tupinambá.

A montagem do Museu Municipal de Arqueologia de Monte Alto representa a recuperação, a valorização e a divulgação da história dos habitantes mais antigos de Monte Alto antes de Monte Alto: os indígenas!

 

Texto de Márcia Angelina Alves
Redação de João Vítor Marcon Camargo

Mais informações

Onde fica? Centro Cívico e Cultural “Dr. Elias Bahdur” (Avenida 15 de Maio, Praça do Centenário, s/n, Centro)
Dias e horários de visitação: Fechado devido a reforma estrutural do espaço
Possui visita monitorada? Sim, para grupos com mais de 10 pessoas.
Como agendar? (16) 3244-4067
E-mail: cultura@montealto.sp.gov.br
Responsável: Dra. Sandra Aparecida Simionato Tavares