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Paleontologia: conheça o Titanochampsa iorii – ‘O terror das águas maastrichtianas’

A DESCOBERTA

Na década de 50, durante a remoção de rochas de uma estrada rural do município de Monte Alto, os operários encontraram um crânio fossilizado. Evidenciaram cerca de 1/3 da porção anterior e fizeram uma fotografia. O destino do material, porém, é desconhecido.

Em 1987, o local é revisitado por pesquisadores, um elemento fóssil isolado é encontrado e classificado como parte de um crânio de um dinossauro titanossauro.

Em 2006, o pesquisador Fabiano V. Iori analisa o material e o reclassifica com parte de um teto craniano de um crocodiliforme e o relaciona com a fotografia de 1950 em um trabalho publicado na Revista Brasileira de Paleontologia em parceria com o pesquisador Antonio Celso de Arruda Campos.

 

NOVAS ANÁLISES

Um artigo científico recém-publicado na revista internacional Historical Biology, apontou novos caracteres para o fragmento craniano, permitindo o levantamento de feições inéditas e a definição de que se trata de uma nova espécie do Cretáceo brasileiro. A pesquisa também tenta estabelecer os parentescos e contexto paleoambiental do novo crocodiliforme.

O estudo é liderado pelo paleontólogo Thiago Schineider Fachini do Laboratório de Paleontologia de Ribeirão Preto da USP e tem como colaboradores Pedro L. Godoy (USP, StonyBrook University, UFPR), Júlio C. A. Marsola (USP, UTFPR, UNESP), Max C. Langer (USP), e Felipe C. Montefeltro (UNESP).

 

UMA NOVA ESPÉCIE

Thiago Fachini explica que a espécie é nova porque ela possui características distintas dos demais crocodiliformes fósseis encontrados para o Período Cretáceo. Tal conclusão é resultante de uma análise da morfologia geral do crânio de Titanochampsa onde observou-se que as características observadas são semelhantes às de crocodiliformes viventes.

 

O NOME DO ANIMAL

Titanochampsa significa “crocodilo titânico”, uma alusão ao seu grande porte e por ter sido confundido com titanossauro por muito tempo. O epiteto específico iorii é uma homenagem ao pesquisador Fabiano V. Iori por seus trabalhos na região de Monte Alto e pela prévia identificação do material.

 

O TAMANHO E O CONTEXTO

Titanochampsa iorii provem de arenitos da Formação Marília. Uma unidade geológica que se depositou no Final do Período Cretáceo, especificamente no Maastrichtiano (entre 72 e 66 milhões de anos atrás). Na região de Monte Alto são reportados desta formação restos de titanossauros, dentes isolados de crocodiliformes, escamas de peixes, conchas de bivalves além de Kurupi itaata, um dinossauro abelissaurídeo.  Os estudos geológicos indicam que havia sazonalidade no clima, o qual era de árido à semiárido, com redução do aporte de sedimentos e constante estabelecimento de paleossolos.

Por se tratar de material fragmentário, a definição do tamanho exato do animal é problemática, contudo, as análises levando em consideração outros crocodilos permitiram estimar um animal com crânio que poderia ter entre 37 e 75 cm de comprimento e um tamanho corporal entre 3 e 6 metros. Já o espécime retratado na fotografia seria ainda maior, podendo atingir 7 metros, o que torna Titanochampsa iorii o maior “crocodilo” do Neocretáceo brasileiro.

Embora a Bacia Bauru seja famosa por suas inúmeras ocorrências de crocodiliformes, o Titanochampsa iorii é o primeiro formalmente descrito para a Fm. Marília. E diferente de todos os demais, parece pertencer ao grupo dos Neosuchia, um grupo de crocodilifomes ao qual pertencem também, jacarés, crocodilos e gaviais modernos e com hábitos semiaquáticos.

Um animal deste porte com tais hábitos sugerem que ocorreriam corpos d’água frequentes naquele ambiente hostil, ou até mesmo pode ser um indicativo de aumento de umidade na bacia durante o Maastrichtiano.

 

A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO

A estudo tem uma grande relevância por apresentar uma nova espécie de crocodiliforme fóssil com possíveis hábitos semiaquáticos e muito próxima filogeneticamente das espécies viventes.  Além de representar um grupo até então pouco conhecido para o Cretáceo brasileiro, a nova espécie contribuirá futuramente para uma melhor compreensão dos aspectos evolutivos dos crocodilos e porque os Neosuchia tiveram sucesso, enquanto a grande maioria de crocodiliformes foram extintas no final do Cretáceo. Explica Fachini.

 

A EXPOSIÇÃO

O fóssil ficará exposto a partir de 16 de dezembro no Museu de Paleontologia Prof. Antônio Celso de Arruda Campos, em Monte Alto.

A instituição fica aberta de terça a sexta feira das 8 às 11h30 h e das 13 às 16h30; e nos finais de semana, somente na parte da tarde. A entrada é gratuita.

Sandra Tavares, paleontóloga e diretora do Museu, lembra que se trata do quinto gênero de “crocodilo” inédito da região e que Titanochampsa iorii vai se juntar na coleção com os seus parentes Montealtosuchus, Morrinhosuchus, Caipirasuchus, e Barreirosuchus, além dos quelônios Roxochelys e Yuraramirim e dos dinossauros Arrudatitan e Kurupi.