Lintas Serayu

Nova espécie de Caipirasuchus é divulgada internacionalmente

Durante as obras de duplicação da “Rodovia da Laranja” (SP 351) em 2011, uma grande quantidade de rocha foi removida para a construção de uma ponte em um dos trevos de acesso à cidade de Catanduva, no estado de São Paulo. Os entusiastas Edvaldo Fabiano dos Santos e Laércio Fernando Doro decidiram realizar um trabalho sistemático de prospecção junto aos blocos removidos de rocha e vários fósseis foram descobertos. A parceria com o paleontólogo Fabiano Vidoi Iori resultou na descoberta de mais materiais e no desenvolvimento de trabalhos acadêmicos, onde foram identificados a presença de restos de conchas, peixes, anuros, tartarugas, crocodilos e dinossauros.

As novidades paleontológicas resultantes destes trabalhos continuam. Em um estudo recém-publicado (Junho de 2024) na revista científica internacional “Historical Biology” foi apresentada uma espécie inédita de crocodilo do Período Cretáceo, o Caipirasuchus catanduvensis.

O estudo foi desenvolvido pelos pesquisadores Fabiano V. Iori (Museu de Paleontologia Pedro Candolo e Museu de Paleontologia “Prof. Antonio Celso de Arruda Campos”) Aline M. Ghilardi (UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Marcelo A. Fernandes (UFSCar – Universidade Federal de São Carlos) e Willian A. F. Dias.

O Caipirasuchus (crocodilo caipira) viveu por volta de 85 milhões de anos atrás, conviveu com os grandes dinossauros e com diversas outras espécies de crocodilos. Atingiam 1,20 m de comprimento, eram animais de hábitos terrestres e curiosamente se alimentavam de plantas.

Seus restos foram encontrados em rochas do interior paulista e do Triângulo mineiro. Agora são seis espécies de Caipirasuchus descobertas. As duas primeiras espécies descritas foram escavadas no município de Monte Alto (SP), outras duas são oriundas da região de General Salgado (SP), uma do município de Iturama (MG) e a nova espécie de Catanduva (SP). Daí vem o termo “catanduvensis” no nome da espécie.

Embora descoberto em 2011, a percepção de que o exemplar de Catanduva poderia ser uma possível espécie inédita só ocorreu em 2018 durante os estudos de Willian Dias. As tomografias de diferentes espécimes de Caipirasuchus mostravam que o exemplar de Catanduva apresentava uma inusitada comunicação entre as vias áreas superiores e uma câmara no osso pterigoide (no céu da boca). No estudo recente, a nova espécie foi formalmente descrita e interpretações acerca dos espaços aéreos foram apresentados.

Os pesquisadores propõem que a câmara no osso pterigoide funcionaria como uma caixa de ressonância para potencializar as vocalizações de Caipirasuchus catanduvensis, como proposto para outras espécies fósseis, como por exemplo dinossauros da família dos lambeosaurídeos.

A vocalização neste caso, é um indicativo de organização social dentre os Caipirasuchus, similar ao observado nos atuais suricatos na África. Embora proposta para Caipirasuchus catanduvensis, a organização social pode ter ocorrido nas outras espécies do gênero e influenciado na história evolutiva do grupo, marcada por sua ampla distribuição regional e diversificação.

A definição deste novo crocodilo do Cretáceo brasileiro nos ajuda refinar nosso conhecimento paleontológico sobre os Caipirasuchus e suas interações paleoecológicas. Esses inusitados animais não eram os mais fortes e nem os mais vorazes de seus ambientes, mas a organização social pode ter sido a resposta que estes pequenos crocodilos encontraram para o seu sucesso em um planeta dominado por gigantes predadores.